Marolinha | Crianças e adolescentes | “A pandemia da covid-19 pode aumentar a violência sexual infantojuvenil”, diz especialista

Imagem: Pexels

Aos oito anos, *Maria sofreu o primeiro abuso sexual pelo pai. A violência só teve fim uma década depois, quando ela teve coragem de denunciá-lo. “Não foi uma decisão fácil. Fui desacreditada. Minha mãe o defendeu e pagou advogado para ele. Até meus irmãos me abandonaram, mas houve justiça”, relembra.

Os efeitos da pandemia da covid-19 não se restringem ao elevado número de mortes ou infectados, a violência contra as crianças e adolescentes têm proliferado nos lares brasileiros e pela internet. Indicadores do canal de denúncias da Safernet Brasil referente ao mês de abril deste ano em comparação a 2018 indicaram 108% de aumento nas denúncias de pornografia infantil na internet.

No entanto, o problema não é de hoje. O Boletim Epidemiológico do Ministério da Saúde de 2018 comparou os anos de 2011 e 2017 e observou-se um aumento nas notificações de violência sexual contra crianças e adolescentes: 64,6% e 83,2%, respectivamente.

Para a pedagoga Ada Lima todo cuidado é pouco. “Precisamos enxergar a criança como um sujeito de direitos. A partir dessa constatação, proteger crianças e adolescentes não se restringe à família, mas é uma responsabilidade de todos. Da igreja, da escola, da polícia, do judiciário, dos vizinhos. A denúncia e a informação são as ferramentas mais efetivas para a prevenção e proteção”, explica a pedagoga.

18 de maio: Lembrar é combater

O Dia Nacional de Combate ao Abuso e Exploração Sexual de Crianças e Adolescentes foi instituído pela Lei Federal 9.970/00 há exatos 20 anos. A data remete ao crime bárbaro cometido contra a menina Araceli, de oito anos. Em 1973, na cidade de Vitória, no Espírito Santo, ela foi torturada, estuprada e morta. O crime permanece impune.

“O tema do abuso sexual infantojuvenil traz repugnância. Não conseguimos compreender o porquê de alguém agredir sexualmente uma criança. Em vez de focar no medo, precisamos agir. Essa criança poderia ser qualquer um de nós, por isso é preciso ter coragem para fazer a denúncia, você pode salvar uma vida com uma ligação”, alerta Ada Lima.

A especialista explica que as denúncias podem ser feitas pelo Disque 100, todos os dias da semana, 24 horas por dia, inclusive nos fins de semana e feriados, gratuitamente e de forma anônima.

Embora não haja um perfil do abusador sexual, dados estatísticos como os da Ouvidoria do Ministério da Mulher, da Família e Direitos Humanos apontam que em 73% dos casos, o abuso sexual ocorre na casa da própria vítima ou do suspeito; e é cometido por pai ou padrasto em 40% das denúncias. O suspeito é do sexo masculino em 87% dos registros.

“As meninas são maioria, mas meninos também são violentados. Contudo a subnotificação dificulta os dados sobre esse fenômeno. Além disso, não há um perfil do abusador, há denúncias de padres, médicos, vendedores, professoras. A criança e o adolescente bem informados têm muito mais condições de revelar os abusos ou impedir que eles comecem”, garante a pedagoga.

* O nome foi trocado para preservar a identidade da entrevistada

Acesse o site da Campanha 18 de maio:

https://www.facabonito.org.br/

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